05 junho 2012

Os tentáculos que estrangulam os médicos

Saíu no Expresso de ontem um artigo de opinião, com o nome "Os tentáculos da Ordem dos médicos" que, para não variar, faz os possíveis por descredibilizar a imagem da classe profissional a que, espero, em breve vou pertencer.

Não vou discutir a questão dos genéricos, uma vez que já vários profissionais me asseguraram que, apesar de a substância activa ser a mesma, alguns - poucos - genéricos têm menos eficácia/ mais efeitos adversos. Outros que não confiam na marca. Outros dizem que não há diferenças. Sinto, por isso, não ter experiência qb para comentar a qualidade dos genéricos em Portugal, mas há factos inegáveis:

- Não há um genérico, há muitos. Logo, ainda que a preço mais baixo, as características do negócio para as farmacêuticas são exactamente as mesmas. Basta uma breve pesquisa no site do Infarmed, aqui - eu pesquisei a Sinvastatina, um fármaco usado em casos de hipercolesterolémia. São 11 páginas de resultados, sendo a maioria dos fármacos colocados em quadros a roxo - o que indica que se trata do genérico. Fazendo uma restrição dos termos de pesquisa (usei como Forma Farmacêutica: comprimido revestido; Dosagem 20 mg, Embalagem de 60 unidades), é fácil perceber que, além de se manter o franco domínio do roxo, o Preço para o Utente dos genéricos varia dos 0,74 aos 8,50 euros - reforço que se trata do mesmo composto activo, na mesma dose, em embalagens com o mesmo número de unidades. Por aqui se percebe que, o facto de o médico não trancar a receita, não implica que o doente compre efectivamente o fármaco mais barato. Porque é que não há um concurso público para a existência de um só genérico?

- Já testemunhei situações nas quais é prescrito a um doente um genérico x, da marca y (o mais barato, ou um dos mais baratos), sendo que o doente volta algum tempo depois dizendo que a farmácia não tem e não pode mandar vir. E para isso dão as explicações mais sórdidas - num dos casos, o medicamento, a ser adquirido na zona da Grande Lisboa, teria de vir de Trás-os-Montes. Ou seja, e adaptando a frase do artigo que dá mote a este texto, a farmácia tem o genérico de determinado laboratório e não de outro. Porque seria?

- É público, como podem confirmar nesta notícia do DN, que as farmácias recebem bónus com alguns genéricos. Na notícia fala-se de promoções na ordem dos "compre 50, pague 100" - sem obrigatoriedade de desconto aos utentes. Residirá aqui a explicação para os genéricos disponíveis e para os que não se podem mandar vir? Mais ainda, num País em que uma boa parte da população não consegue pagar os medicamentos, porque não usar esses bónus para que quem realmente necessite possa beneficiar dos mesmos a custo zero? Será que é porque não dá lucro?


Sobre as vagas em Medicina e a inexistência de um curso nas Universidades Privadas, nem vou falar, esse já foi assunto de um outro post. Peço apenas que, caso o autor do texto tenha o azar de um dia precisar de ser internado num hospital e lhe toque um universitário, tenha a bondade de responder de forma correcta e consistente ao interminável questionário inerente à elaboração de uma história clínica que os alunos, em grupos de 5 e 7, lhe farão a um ritmo de 2 vezes/ dia. Agradeço também desenvoltura para ser visto e palpado dos pés à cabeça, partes pudendas incluídas, o mesmo número de vezes.

Já o comentário de que, quem não teve nota para entrar em Medicina, deveria processar judicialmente o Estado, tem todo o meu apoio, desde que o mesmo seja feito para advogados, arquitectos, veterinários, dentistas, biólogos, filósofos, etc. Onde é que já se viu, ter que lutar, estudar à brava e deixar de lado tanta coisa que, na juventude, era suposto poder viver e experienciar? Aliás, o ideal seria mesmo a existência de passagens administrativas até ao 12º ano e entrada automática para todos os que declarassem sem fazer figas que sentem ter vocação para a área. Só assim seria possível separar o trigo do joio e acabar com estes médicos corporativos (sic), que estudam durante 6 + 1 + 4 anos no mínimo.

Sobre os enfermeiros poderem prescrever, deixem-me que vos diga o seguinte:
- Há, sem qualquer dúvida, enfermeiros nos serviços que sabem mais do que eu. Têm experiência e já sabem qual o medicamento a dar numa determinada situação. Se sabem o porquê da escolha, os efeitos adversos possíveis e interacções, sou franca, desconheço.
- Como aluno finalista do curso de Medicina, sou a 1ª a admitir que não sei fazer prescrições em todas as situações. Se calhar é por isso que a Ordem dos Médicos, aquela dos tentáculos, só me deixa prescrever 2 anos depois de estar inscrita. 
- Ao fim desses dois anos, espero ter prática qb para que todo o conhecimento teórico que adquiri ao longo da licenciatura e que hei-de adquirir posteriormente façam sentido e ganhem corpo. Mas tenho a certeza que, mesmo nessa altura, hei-de ir a correr para os assistentes a tirar dúvidas em alguns casos.
- Se acham que os enfermeiros, com 4 anos de curso e apenas uma cadeira semestral de Farmacologia podem prescrever, pois que o façam se tiverem coragem para isso. Eu cá, quase ao fim de 6 anos, não digo a ninguém para tomar uma aspirina para a dor de cabeça, porque fico logo numa ansiedade extrema a pensar e se tem asma?/ e se tem úlcera e não me disse?/ etc.
- Os cursos de Medicina e Enfermagem são distintos por algum motivo. Cada macaco no seu galho. Eu não sei, nem pretendo saber, fazer o trabalho fantástico que muitos enfermeiros fazem. Não percebo porque é que há-de ser estranho eles não saberem fazer o meu.

Por fim, este artigo tem, temo, o mérito de reflectir e muito a opinião de muita gente. Está tudo a esfregar as mãos de contente com as notícias de desemprego na classe médica, "ai é bem feita, há para todos, não havia para eles, queres ver! Acabou-se-lhes o tacho!" É o espírito Tuga: se eu estou mal, é bem feito que os outros também estejam; ninguém pensa que haver desemprego é mau e ponto final e que o facto de ser transversal a várias habilitações profissionais só mostra o tão mal que estamos.  Mas depois, quando faz falta, é um ver se te avias de Ai Sr Dr, de querer o médico disponível, de sorriso nos lábios e sem tempos de espera a toda a hora, de vénias, se for preciso. Na melhor das hipóteses, os médicos são como os jogadores da selecção: passam de bestas a bestiais num instante. E digo na melhor das hipóteses porque isso é quando corre bem e é dado o crédito ao médico. Na maior parte das vezes é Graça a Deus. Já o desgraçado que teve o azar de estar de serviço quando deu entrada uma vítima grave de atropelamento, há-de ser sempre o incompetente que lhe deu dores nos joelhos e nas cruzes para o resto da vida - porque o condutor embriagado que atropelou a vítima não tem culpa, claro.

Tirar um curso de Medicina não é fácil. Foram muitas as vezes em que parei e pensei que diabo estava a fazer à minha vida. Se ao olhar para trás vejo 6 anos com inúmeras semanas de "não posso" (estar com amigos e família, sair, ler, ir a concertos, ir tomar um café - porque tinha que estudar), agora olho para a frente, com o exame de acesso à especialidade no horizonte, e só vejo um "nem pensar nisso". E digo-vos, 6 anos é muito tempo na vida de uma pessoa. É muito tempo na vida dos nossos. E todos os dias peço que, quando acabar o curso, não seja tarde de mais para muita coisa. Apesar de saber que, depois, vou falhar jantares, Natais e aniversários, vou ser a mãe que nunca está em casa, a filha que está a tratar desconhecidos quando os pais precisam dela; vou ter horas extraordinárias obrigatórias e urgências, trabalhar mais de 24h porque não há saídas de banco, vou ficar até mais tarde porque estou preocupada com o Sr X, doente da cama 7. E isto vai trazer-me, espero, muita coisa boa, vai-me fazer sentir realizada, se não conseguir salvar todas as vidas, ao menos que melhore muitas - mas também me vai tirar qualidade de vida, horas de sono e dores de cabeça.

Se quero ter emprego e uma remuneração acima do ordenado mínimo por isso? Quero. Estudei e estudo, esforcei-me e esforço-me, porque não hei-de colher o fruto do que semeei? Porque não hei-de ambicionar ter poder económico para compensar os meus pais do esforço que fazem a sustentarem-me agora? Há maus médicos? Há! Mas não há maus profissionais em todas as áreas? Porque não dar aos bons senão a recompensa, pelo menos o crédito pelo que fazem?

Porque é que querer trabalhar na área para a qual se estudou, com uma remuneração de acordo com as qualificações e horas de trabalho, é um direito que assiste ou deveria assistir a todos os profissionais e na classe médica é "tudo comer pela ditadura do acto médico"? 

33 comentários:

Brimsty disse...

Não podia estar melhor!

Unknown disse...

Concordo plenamente. E só tenho pena que o "senhor" que escreveu o artigo ao o qual este post se refere não tenha tido a integridade de se informar antes de falar sobre um assunto que claramente desconhece, atacando uma classe inteira com base em pressupostos errados.

Luis Borges Alves disse...

Excelente e os meus Parabéns. Só falta perguntar, afinal para que são precisos os médicos?

Daniela disse...

Gostei do texto, tem razão...quanto aos enfermeiros não puderem prescrever tb faz todo o sentido, e aproveito o seguimento para comentar o que alguns médicos fazem relativamente à actuação numa área que não é a sua, nomeadamente na nutrição.. o nutricionista estuda 4 anos, medicina tem quantas unidades curriculares de nutrição? 1, 2..? não vou generalizar, mas há muitos que acham que percebem e depois há situações, como por exemplo, diabéticos que só comem maças reineta porque é a única fruta que O Medico deixa comer.. acho que uma coisa que falta na classe medica é admitir que não sabem...tem de aprender a dizer não sei..sei que isto não tem nada a ver com o texto, mas já que se sentem indignados com os enfermeiros prescreverem ou n.. fica a reflexão.. dizer pra comer isto em detrimento daquilo tb é uma prescrição e essa não é a vossa área..

M disse...

Olá a todos!
Obrigada pelos comentários e bem vindos ao blog ;)

Luís Alves: no meu entender, qualquer pessoa precisa de um médico a quem possa recorrer, sempre que tenha algum dano/ sintoma físico ou psicológico. O médico deverá orientar a pessoa, através do diálogo com a mesma e com exames complementares de diagnóstico, sempre que os mesmos se justifiquem, no sentido de clarificar a existência ou não de uma patologia subjacente e qual o melhor tratamento para a situação (tratamento esse que pode ou não ser farmacológico). E depois existem claro todas as situações de medicina preventiva, acompanhamento de grávidas etc.
No fundo, penso que um médico é necessário para ajudar cada um a desfrutar a sua vida no melhor estado físico e psicológico possível.

M disse...

Dani x):

Concordo plenamente com essa crítica. Aliás, com ambas - há muitos elementos da classe médica que não admitem não saber (e espero nunca me tornar num desses exemplos).
Quanto à parte da nutrição, concordo que o nosso conhecimento é no geral escasso - pelo menos é assim que o sinto de momento. Nos serviços onde estive há em geral um(a) nutricionista que trata da prescrição nutricional, que concordo que é uma prescrição, e pelo menos que eu me tenha apercebido nunca a decisão da nutricionista foi questionada...
Tenho colegas que já contactaram com nutricionistas precisamente no sentido de saber o que pode ou não comer um doente com diabetes e é algo que só ainda não fiz por falta de oportunidade.
Penso que o efeito "maçã reineta" será mais de médicos mais velhos não? Pelo menos é esse a minha experiência, mas posso estar enganada...

Daniela disse...

é capaz de ser mais frequente nos mais velhos sim, felizmente, mas nao sei se serão assiim taaaoo mais velhos.. ainda há muitos mitos vindos dos médicos e depois pra convencer as pessoas que não e assim ui...porque foi o medico que disse...espero que na nossa geração já haja consciencialização nesse aspecto.. se és da fmup deves conhecer uma prof de nutrição que mostra bem a função do nutricionista :P LOL

Luis Borges Alves disse...

Foi apenas um reparo que fiz - claro que é preciso um Médico. Dá-se e reparte-se os actos médicos mas, no fim a responsabilidade dos actos é do Médico. Não sei se me fiz entender ..

M disse...

Dani x): Não, não sou! Acho que muita coisa tem vindo a mudar na atitude dos médicos com as novas gerações... Mas claro, como em todo o lado, há de tudo. E o "porque foi o médico que disse" também mudou um pouco - e no geral, ainda bem...

Luís Alves: Sim, a responsabilidade é do médico. Por isso é que é preciso estabelecer limites no partir e repartir - saber quem tem responsabilidade por cada coisa...

Daniela disse...

ah, por um lado ainda bem :)..Sim as coisas têm evoluído, mas acho que ainda há muito a fazer mesmo assim..

smilingfox disse...

Mx3: Bom texto!! Espectacular reflexão. Parabéns, cara colega :-)

Ana Raposo,
interna de MGF.

Miguel Teixeira disse...

Muito bom Mx3, equilibrado, educado, sereno, referenciado, tudo o que o outro não foi, Por isso já sabes, se não conseguires emprego em medicina, es melhor jornalista que muitos dos que escrevem no expresso :P

MOIN VER disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
M disse...

Dani: Sim, muito a fazer, um bom e grande desafio, mas temos que ter condições para isso!...

smilingfox: Bem vinda e obrigada! :)

Miguel: LOL! Obrigada! ;)

P.Santos disse...

Não pretendo comentar o artigo do Expresso nem o facto de enfermeiros prescreverem medicamentos, mas não posso deixar passar de notar a sua completa falta de (in)formação quanto aos genéricos. E tenho pena que uma médica prestes a vir a prescrever tenha já tanto preconceito. Deixe dizer-lhe que já produzi muitas embalagens de medicamentos e a "fonte" de substância activa é ás vezes a mesma para medicamentos de marca e genéricos. Tecnologicamente falando, algo que um médico não pode nem deve pronunciar-se porque simplesmente não tem formação nisso, já vi medicamentos de marca serem uma autêntica porcaria. Já vi uma linha de embalagem parar a meio de uma barrica de comprimidos para alternar de genérico para medicamento de marca. É como dizer que o gasóleo de Galp ser melhor que o do Pingo Doce quando a cisterna que descarrega numa estação de serviço da Galp a seguir está a descarregar na do Pingo Doce. São todos tão bem enganados nem mundo industrializado. Por isso, esta discussão só favorece algumas pessoas. Concordo que em algumas substâncias activas hajam demasiadas apresentações e isso torna impossível a qualquer farmácia ter todas as apresentações. É fisicamente impossível. E é claro que a farmácia recebe bónus na venda de genéricos, mas também os recebe nos de marca, ora essa! Portanto, acho que a discussão devia ir no sentido de haver bons e maus medicamentos, conforme há bons medicamentos de marca, há os maus, e conforme há maus genéricos mas também há os muito bons. Para rejeitar os maus há que fazer queixas ao Infarmed e elas parecem não existir senão haveriam mais ordens de recolha. E acresce que o Infarmed é muito bem conceituado internacional, por isso não creio que sejam incompetentes. Países de norte receitam por DCI há dezenas de anos e sem problemas. Portanto, médicos a tomar este tipo de posição não abona muito a seu favor. Mas é só a minha opinião, obrigado por a ler. Cpts

M disse...

Caro P. Santos:
Desde já obrigada pelo comentário. Não percebo é de que forma é que ele se ajusta ao que eu escrevi, já que comecei precisamente por dizer que não tenho experiência suficiente para fazer comparações entre genéricos e medicamentos "de marca". Logo não percebo porque é que diz que tenho algum preconceito contra os genéricos.

Devo informá-lo, aliás, que no geral o meu conhecimento de marcas comerciais é bastante restrito e que sempre que pesquiso fármacos faço-o pela substância activa - como deve calcular, é o que aprendemos na faculdade. Para meu uso pessoal, também recorro muitas vezes as genéricos, logo aparentemente a tomada de posição que pretendeu ler aqui, para começar, não abona a meu próprio favor.

Este post não teve por objectivo discutir a qualidade de fármacos - não tenho conhecimentos para isso, logo não me manifesto. Teve sim por objectivo contrapor as palavras do autor do texto do Expresso, que põe nos médicos toda a responsabilidade no que diz respeito à prescrição dos fármacos mais baratos.

O post deste blog é também apenas uma opinião pessoal, mas ao ler o seu comentário fico a pensar se realmente leu o que eu escrevi...
Cumprimentos.

Maria disse...

Sou estudante de medicina do 5º ano e depois de muita pesquisa cheguei à conclusão que se souber gerir uma quinta de forma sustentável, com animais e agricultura, talvez poderei 'tirar' uns 1000€ por mês. A ter uma vida santa em que a minha maior preocupação seria se o porco não se zanga com o cavalo, ou se não vem a praga das alfaces. Se seguir com a minha carreira médica vou receber exactamente o mesmo, ter 10 vezes mais responsabilidades, condições de trabalho precárias a saltar de hospital em hospital onde não posso fazer TAC porque não há dinheiro e pedem-nos para ver "onde é o AVC" com uma eco, muitas dificuldades em constituir família, etc. Os bons profissionais vão fugir a correr de Portugal, e que o façam depressa porque se puder vou atrás e levo também a criação de galinhas d'angola. O nosso país vai ficar sem médicos bons. E com um picheleiro jeitoso qualquer um se fica, mas depois ninguém vai querer um cardiotorácico mediocre a remediar seja o que for no peito do pai de 5 filhos. Let's hit the road!!! E a conversa da vocação e tal e se querem ser médicos não se podem importar de ganhar menos... A vocação do Fernando Mendes é claramente fazer de palhaço e saber o preço das salsichas mas não o faz por menos de 30.000€. Eu não me arrisco a ter a vida de ninguém das mãos por menos da minha dignidade

laura disse...

O comentário de P.Santos desmascarou de forma muito cruel os meandros do negócio das farmacêuticas. Muito parecido ao negócio das gasolineiras, conforme comparação feita. O carácter comercial do ramo é de facto feroz. Nas farmácias, vendem-me o que lhes dá mais lucro, no caso de medicamentos de venda livre. Por isso vou confiar no meu médico que sei não ser comerciante ou industrial farmacêutico.

Pcoelho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pcoelho disse...

Caro P.Santos
Gostaria de informar então os usuários deste blog qual é a sua licenciatura para poder opinar sobre genéricos? É parte integrante de uma empresa de genéricos? se o é, não será propriamente o dono da imparcialidade para opinar.
Como sabe, os genéricos têm que ter uma biodisponibilidade semelhante aos medicamentos de marca registada e não como se pensa, ter uma biodisponibilidade semelhante a outros genéricos. Agora pergunto-lhe: (1) Onde estão os estudos que o demonstram? e pf não venha com estudos patrocinados pelos própios laboratórios.
Apresente estudos realizados por entidades independentes

Teresa disse...

Caro P.Santos concordo em absoluto com o seu comentário. Quanto á D. Laura penso que está enganada quanto aos farmacêuticos serem comerciais e os médicos não. Pois por lei o médico tem de passar o medicamento mais barato para a doença em questão (desde sempre) e não o faziam. Penso que todas as pessoas sabem porque os médicos preferem muitas vezes um laboratório a outro... Todos sabemos que os delegados visitam os médicos para lhes convencer a passar a sua marca e com isso os médicos ganham viagens, congressos, e muitas outras coisas. Por isso os farmacêuticos não são mais comerciais que os médicos... A revolta agora dos médicos é que deixaram de ter poder de escolher a marca,podendo assim o utente levar o que prefere, como aliás acontece nos outros países! Portanto D. Laura, como vê os médicos quando prescrevem algum medicamento e não outro é por várias razões, sendo uma delas comercial!

Teresa disse...

Quanto ao artigo Mx3, cuidado com a difamação... Muitas vezes os médicos passam laboratórios que não fazem aquele medicamente ou então que está esgotado! E quanto isso acontece as farmácias têm de assegurar a terapêutica ao utente e aviar outro laboratório se assim o utente quiser. Isso de as farmácias dizerem que não arranjam o medicamento não é porque querem vender o mais caro, mas sim porque não o conseguem mesmo. Por isso mais uma vez eu lhe digo, cuidado com a difamação...

M disse...

Maria: Sabes que essa é uma reflexão que tenho feito e concordo contigo, os melhores médicos, os mais conscientes da sua responsabilidade, serão efectivamente os primeiros a ir embora, precisamente pelo que dizes...

Laura: Não sei é como é que o Infarmed, "tão conceituado", como o P. Santos afirma, deixa passar isto...

Pcoelho: Acho que todos gostaríamos de uma resposta às questões que tão pertinentemente levantou... Mas para já esperamos sentados....

Teresa: Se concorda com o comentário do Psantos, então talvez também nos saiba esclarecer melhor acerca do problema que ele levanta. No meu texto, eu não difamo ninguém. Levanto a dúvida, pergunto o porquê de as farmácias terem uns genéricos e não outros. E o facto a que me refiro de terem mais lucros com os genéricos, é fundamentado numa notícia.
Diz que tenho que ter cuidado com a difamação, no entanto fala de os médicos terem lucros com as visitas de delegados... Isso não é difamação também? Não digo que não aconteça - não sei, suponho que sim. Mas conheço muitos casos mesmo, cada vez mais, em que os médicos nem recebem delegados. E os patrocínios das farmacêuticas são dirigidos a serviços e não a médicos em particular.

Teresa disse...

Caro Mx3. Quanto ao fato de referir que os médicos ganham com as visitas dos delegados é pura verdade e nunca se leu nenhum farmacêutico escrever sobre isso, por isso parece-me mal um futuro médico estar a falar do que ganham as farmácias sem conhecimento de causa. Quanto ao fato de as farmácias terem alguns genéricos e outros não tenho todo o prazer em esclarecê-lo: infelizmente, como sabemos, há dezenas de laboratórios a fazerem o mesmo medicamento, por isso torna-se fisicamente e economicamente insustentável ter todos os laboratórios. Para além disso o programa que está no computador dos médicos para a prescrição de medicamentos é diferente do das farmácias e muitas vezes aparecem laboratórios que não fazem aquele medicamento e o médico não sabe e prescreve-o. Quanto á questão da difamação, é de fato uma difamação dizer que as farmácias dizem que não têm aquele laboratório e que não o conseguem arranjar porque querem vender o mais caro (quando o mais caro nem é o que dá mais lucro), porque a farmácia vende outro laboratório quando o prescrito não existe ou está esgotado ou o proprio utente prefere outro que era o que estava a fazer anteriormente.
Quanto á questão levantada por P.Santos eu posso, com todo o prazer explicar-lhe o que me disser que quer que eu explique.

Teresa disse...

Caro Mx3. Quanto ao fato de referir que os médicos ganham com as visitas dos delegados é pura verdade e nunca se leu nenhum farmacêutico escrever sobre isso, por isso parece-me mal um futuro médico estar a falar do que ganham as farmácias sem conhecimento de causa. Quanto ao fato de as farmácias terem alguns genéricos e outros não tenho todo o prazer em esclarecê-lo: infelizmente, como sabemos, há dezenas de laboratórios a fazerem o mesmo medicamento, por isso torna-se fisicamente e economicamente insustentável ter todos os laboratórios. Para além disso o programa que está no computador dos médicos para a prescrição de medicamentos é diferente do das farmácias e muitas vezes aparecem laboratórios que não fazem aquele medicamento e o médico não sabe e prescreve-o. Quanto á questão da difamação, é de fato uma difamação dizer que as farmácias dizem que não têm aquele laboratório e que não o conseguem arranjar porque querem vender o mais caro (quando o mais caro nem é o que dá mais lucro), porque a farmácia vende outro laboratório quando o prescrito não existe ou está esgotado ou o proprio utente prefere outro que era o que estava a fazer anteriormente.
Quanto á questão levantada por P.Santos eu posso, com todo o prazer explicar-lhe o que me disser que quer que eu explique.

Teresa disse...

Mx3: Concordo plenamente que a classe médica esteja revoltada com as novas medidas do governo, mas não me parece correto atacar a classe farmacêutica e os enfermeiros, pois para além de estar a falar sem conhecimentos suficientes, isso não trás qualquer vantagem á classe médica...

M disse...

Cara Teresa:
Uma vez mais, eu não falei do quanto ganham as farmácias e, como diz, não tenho qualquer conhecimento de causa sobre o tema - limitei-me a pôr o link de uma notícia, que é pública. A justificação que me dá para a inexistência de todos os genéricos tem lógica, mas penso que concorda então que, mesmo em termos logísticos, teríamos todos a ganhar com a existência de um único genérico.

Desconhecia a questão de os fármacos que aparecem no "computador dos médicos" ser diferente daqueles que aparecem nas farmácias e confesso que fiquei curiosa com isso... Se o médico não se pode reger por um programa criado, suponho, pelo Ministério da Saúde (?), baseado, suponho também, no prontuário terapêutico, deverá então basear-se em quê? E o das farmácias, se não se baseia no mesmo prontuário, que base usa? Atenção que não há nas minhas perguntas qualquer tom de provocação, é mesmo puro desconhecimento de causa.

Uma vez mais, a difamação de que me acusa não está escrita em nenhuma parte do texto - pergunto "porque seria?" (expressão que usei em tom de provocação porque é exactamente a usada no início do artigo do Expresso a que este texto pretendeu responder), o que é completamente diferente de fazer uma afirmação taxativa de "porque querem vender mais caro" - essas palavras são suas, não minhas...

A questão que eu gostaria de ver esclarecida prende-se com a seguinte afirmação do Psantos:
"Tecnologicamente falando, algo que um médico não pode nem deve pronunciar-se porque simplesmente não tem formação nisso, já vi medicamentos de marca serem uma autêntica porcaria. Já vi uma linha de embalagem parar a meio de uma barrica de comprimidos para alternar de genérico para medicamento de marca." Dado afirmar no comentário anterior que concorda em absoluto com o comentário por ele feito, depreendo que esteja também familiarizada com este problema...

Por fim, dado que "nunca se leu nenhum farmacêutico escrever sobre isso", suponho que não seja essa a sua profissão. De qualquer das formas, o meu texto não pretendeu, nem pretende, criar qualquer tipo de "luta de classes", apesar de infelizmente me parecer que há quem o queira ler dessa forma. O objectivo foi manifestar-me contra a descredibilização dos médicos em geral que é feita no artigo que serviu de base ao post.

M disse...

Teresa, não ataquei ninguém. Limitei-me a levantar questões com base em informações que são do domínio público e não médico e que me pareceram pertinentes - e dadas as reacções, pelos vistos são mesmo. Não falei de nenhuma questão sobre a qual não tenha conhecimento de causa, limitei-me a dar uma opinião e tudo o que não é minha opinião tem links para as fontes. Também não emiti qualquer tipo de opinião sobre ser mudada a forma de fazer a prescrição.

Por fim, eu não tenho por objectivo neste blogue, em nenhum post, trazer qualquer vantagem à classe médica. E o que pretendo fazer como profissional é defender sempre o doente.

Este texto foi publicado naquele que é há já algum tempo o meu blog pessoal. E a lição que tiro de todas as reacções que li, é que há mais preconceitos em relação à classe médica do que aqueles que eu algum terei em relação a qualquer outra classe.

Teresa disse...

Cara Mx3: claro que os programas utilizados são baseados no prontuário terapêutico, mas a diferença é que no dos médicos no programa aparece tudo, o que existe e o que era para existir mas não saiu para o mercado e o que foi descontinuado e os médicos não têm aceso a informação se de fato existe mesmo e se está esgotado ou não, enquanto que no programa das farmácias (sifarma 2000)também aparece tudo mas nas farmácias o estado faz atualizações e através dos armazenistas sabe-se o que está esgotado e o que não está, o que saiu para o mercado e o que não saiu e assim colocar na ficha do produto.
E queria salientar que quando se vende um laboratório e não outro é porque o outro não há, e como profissional de saúde que é deve concordar comigo que é melhor fazer de outro laboratório do que ficar sem a terapêutica. Claro que a farmácia comprando diretamente aos delegados têm mais vantagens, mas isso tanto se aplica aos genéricos como aos comerciais (como dizia P. Santos). Acredite que os genéricos mais caros não são os que dão mais lucro á farmacia, e tal como a classe médica o que interessa á classe farmacêutica é o utente.

Luis Borges Alves disse...

Olá Boa noite a todos
Acho que a partir de certa altura, se discute o sexo dos anjos dado que o negócio dos medicamentos interessa a todos, desde o governo ao farmacêutico. Quanto a genéricos, acho que eles não existem, porque senão não era preciso colocar p.ex. paracetamol seguido do nome do laboratório. Quanto ao que o Sr. P.Santos escreve, o melhor é nem comentar dado a gravidade do que se escreve.

Teresa disse...

Quanto á minha profissão claro que sou farmacêutica e quando disse que nunca nenhum farmacêutico escreveu sobre isto foi ter feito o que a Mx3 fez,fazer um blog e nele escrever sobre o que ganham os médicos por prescrever determinado medicamento.
Quanto ao concordar com o P.Santos para além do que ja disse antes é porque há laboratórios que fazem o medicamento comercial e o seu genérico, sendo tudo exatamente igual, desde principio ativo (claro) a excipientes, como por exemplo o Benestan OD que é feito pela sanofi aventis é exatamente igual ao seu genérico alfuzosina winthrop, pois é o mesmo laboratório que fabrica os 2 (como deve saber). Por isso concordo com a comparação das gasolineiras, ou seja, a embalagem por fora é diferente, tem outro nome, mas lá dentro são exatamente iguais, feitas na mesma linha, no mesmo sitio, no mesmo laboratório! Como também sabe o Infarmed é a entidade que autoriza a comercialização dos medicamentos, que controla o seu fabrico, qualidade e efetividade. Espero ter-me feito entender, senão estarei disponível para mais esclarecimentos.
Quanto a não pretender uma luta de classes, somos 2. Das poucas coisas que concordei no seu artigo foi a de "cada macaco no seu galho": médicos estudam a doença, farmacêuticos estudam o medicamento e os enfermeiros estudam a administração de injectaveis, etc. Num mundo ideal o que aconteceria era as 3 classes trabalharem juntas e cooperarem, mas infelizmente isso não acontece...
Quanto á classe médica não tenho nada contra até porque tenho muitos familiares diretos que são médicos (daí eu tb saber o que se passa com eles).

Teresa disse...

Caro Luís Borges Alves:
Boa noite, quanto a que deveria haver só um laboratório de genéricos todos nós concordamos.
Daí também concordar consigo se é paracetamol é paracetamol o laboratório é indiferente. Aliás Portugal é dos poucos países do mundo em que o médico passa qual o laboratorio, nos outros países passam apenas o nome do princípio ativo. Se houvese menos laboratórios de genéricos era mais fácil para todos.

M disse...

Concluindo o pingue-pong, que já vai longo, todos concordamos que o excesso de genéricos não beneficia nenhuma das partes, que as lutas de classes não fazem sentido, que todos sem excepção temos como 1º interesse o interesse do doente.
Continuo no entanto a achar a acusação que o Psantos faz grave, já que é desonesto vender genérico como se fosse "de marca", é como comprar bolachas da Nacional e metade do pacote ser da linha branca de um qualquer hipermercado - pode ser exactamente a mesma coisa, mas a conta final para o utente é diferente. Mas são questões de mercado, por isso adiante.

Dado que toda a informação que consta da parte inicial deste post é pública, cita fontes e nem sequer expressa opiniões, parece-me que seria completamente inócua não fosse eu identificar-me como aluna de Medicina, o que me faz pensar que a liberdade de expressão, afinal, não é a mesma para todos.

 

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